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Os toxicómanos e suas famílias: breve abordagem aos modelos

Andrea M. Colôa

Psicóloga Clínica

“Se não é possível atender à demanda da família no
que se refere à eliminação do sintoma, talvez se possa
ajudá-la a compreender o lugar que a toxicomania ocupa no
equilíbrio familiar”
Sternschuss, 1983

 

O Conceito de Toxicomania

      As primeiras formulações teóricas sobre a toxicomania situam-se no campo da psicanálise e remontam aos finais do século XX (Sequeira, 2003). Importa primeiramente clarificar este termo de toxicomania, para depois se poder entender como este está dependente da genealogia familiar do toxicómano.
      Segundo Sequeira (2003), enquanto termo composto – toxicomania – devem ser tidos em conta dois aspectos implicados: o tóxico (droga) e a mania (adição). Quanto a este autor, trata-se de um vínculo que inclui o sujeito (o adito) e o objecto-droga.
      Angel e Angel (2005) dizem que, se a toxicomania for definida como a adição ou a dependência de um produto tóxico ilícito, esta definição fica aquém do que realmente acontece. Então Angel e Angel (2005) definem toxicomania como “uma determinada forma de comportamento de estrutura aditiva e socialmente designada como patológica” (p.32).
      Clarificando este tipo de comportamento e segundo Jáuregui (2000), o toxicómano manifesta-se como alguém dependente da droga, e a sua necessidade de consumo é-lhe imposta com uma urgência imperativa, ou seja, para o toxicómano, o consumo representa o imperativo segundo o qual gira toda a sua existência.
      Atendendo a outros autores, Freud considerou ainda, as toxicomanias como sucedâneos da masturbação, para ele, constituía o “hábito primário”, e adiantou que as origens da toxicomania devem ser procuradas na fase oral do desenvolvimento (Sequeira, 2003). Segundo Radó, o sujeito toxicómano entrega-se ao gozo pulsional que representa o masoquismo, no entanto Freud apresenta um ponto de vista económico, defendendo que este masoquismo aparece sob a égide da pulsão de morte.
      Os factores comportamentais e psíquicos de uma toxicomania são complexos e têm raízes profundas na história familiar (Angel & Angel, 2005), é por isso essencial que a genealogia familiar seja tida em conta, como se propõe fazer no próximo ponto.

Toxicomania e a Família

      Pode dizer-se que, o indivíduo, ao nascer, ainda não faz parte de uma sociedade, pelo contrário, a criança nasce com uma pré-disposição à socialização visando tornar-se membro de uma sociedade. Nesse momento, o indivíduo passa por um processo de interiorização, apreensão de uma realidade objectiva, realidade esta dotada de um sentido e cuja manifestação é decorrente de processos subjectivos do Outro. O que quer dizer que, o indivíduo passa a assumir o mundo no qual os outros já vivem. A criança, nesta fase, passa não só a compreender aspectos subjectivos do Outro, bem como passa a perceber o mundo em que está inserido.
      Todo este mecanismo ocorre, depois de uma etapa idílica com a mãe, e segundo Freud, onde o mundo ainda lhe aprece indiferenciado: onde ainda não existe nem o Eu nem o Outro, e é então que deve ocorrer a fase de separação (desmame) – ruptura narcísica. Desta forma abre-se-lhe um mundo exterior – narcisismo primário – e dá-se a perda do Objecto (a mãe), em que é suposto haver um trabalho de luto, facilitado pelo terceiro elemento da relação – o pai. Este tem a função de providenciar a separação, servindo como mediador, entre mãe e filho, introduz a criança num mundo da diferença e pluralidade.
      O toxicómano, segundo Jáuregui (2000), apesar da satisfação plena que encontra na droga, os sinais da falta, anunciam um estado depressivo melancólico que faz com que haja uma compulsão de repetição, e volta a consumir. Parece, desta forma, que o toxicómano é um ser capaz de satisfazer-se, de construir “um suficiente”. Através da droga tenta evitar a tristeza própria da perda da sua unidade paradisíaca, da sua relação una com a mãe antes da separação causada pelo pai, e por isso converte-se num ser incapaz de satisfazer-se, de desejar, e como consequência, incapaz de aceder à sua dimensão humana (Jáuregui, 2000).
Costa (1989) evidencia que o jovem toxicómano é efeito de conflitos familiares; na verdade, recebe a culpa de toda problemática familiar. Sendo assim, o toxicómano configura-se como o bode expiatório das tensões familiares.
      Angel e Angel (2005), defendem também que o adolescente toxicómano faz do seu corpo o receptáculo dos problemas não resolvidos da história familiar, “faz da sua mutilação psíquica e corporal, através do consumo do tóxico, o veículo dos sofrimentos e desvios individuais e relacionais que irrigam o campo familiar” .
      Ao entrosar vários modelos teóricos psicodinâmicos acerca da família e do seu papel/ responsabilidade no que concerne à toxicomania, sabe-se que a família é a primeira fonte de socialização do indivíduo e é através dela que o sujeito apreende os valores, normas que norteiam a sociedade. O modo como a família irá transmitir os valores pode interferir, ou não, no uso de drogas pelos jovens. Na verdade, a toxicomania pode ser fruto de uma desestruturação familiar, ou atendendo a uma vertente dinâmica, de uma triangulação mal feita.
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